domingo, 30 de setembro de 2012

Mensagem pra você

Família,
               escrevo a vocês para pedir ajuda, mais uma vez. Temos tido algumas dificuldades que estamos tentando resolver por aqui mesmo. Terça feira vem aqui em casa uma fonoaudióloga ver como está a audição dela e o aparelho, que está quebrado. Isso dificulta muito nossa comunicação com ela e a deixa, de uma certa forma, mais isolada. Estou tentando ver  a possibilidade dela ser operada para tirar o pino colocado na cirurgia que ela fez no Rio e que é o que provavelmente está provocando a dor. Não haverá custos de anestesia nem do cirurgião e ainda estou tentando alguma coisa com relação aos custos de internação. A colocação de uma prótese ficaria para janeiro, passado o prazo que ela tem de cumprir das carências do plano de saúde. Essa prótese é que permitiria, se tudo der certo, que ela voltasse a andar.
     Mas, ainda sinto que há dificuldades na adaptação dela. Muitas vezes sentimos que ela não nos ajuda a cuidar dela. Temos que insistir para que ela coma sozinha ou ajude no banho, por exemplo. Essa semana ela ficou constipada por três ou quatro dias. Na verdade observamos que não era bem uma constipação. Ela como que se recusava a fazer força para evacuar. Isso criou problemas para a Sara que está cuidando dela e nos preocupou. Com a minha experiência de atendimento psicológico pensei imediatamente nas crianças que se recusam a evacuar. O sentimento que está associado a esse gesto é geralmente a raiva.
     Como não imaginar que a Dorita possa estar brava com tudo que está acontecendo com ela? Por maior que seja a nossa dedicação e o cuidado que estamos tentando oferecer a ela fico sempre com a sensação de que falta alguma coisa. Conversei com a Ana e com os meninos tentando pensar se há algo mais que possamos fazer por ela. Vamos tentar melhorar ao máximo o cuidado que estamos oferecendo.
     Mas, ocorreu-nos uma ideia. Contei a vocês da possibilidade que ela está tendo de expressar a raiva dela, como na história do "inferninho" (postada no blog em 09/09). No entanto, talvez persista nela uma sensação de abandono. Há, de fato, na presença dela aqui, alguma coisa que ela pode sentir como uma espécie de exílio. Creio que não é difícil entender que ela possa se sentir abandonada, apesar de todo o cuidado com que foi feita a a mudança dela para cá.
     Foi então que nos veio a ideia. Eu já vinha imprimindo as mensagens de vocês para mostrar a ela. Ela lê, mas não faz nenhum comentário. Hoje a Celeste telefonou, eu disse isso a ela, mas ela ficou me olhando sem dizer nada. Pensamos então que seria interessante se todos pudessem escrever alguma coisa no blog, ou mandar por email. Algo como o que já tem sido escrito, mas dirigido especificamente a ela, expressando o sentimento de cada um em relação a ela  e ao que está acontecendo. Creio que isso poderia dar a ela, mais claramente, uma confiança maior de que ela não está sendo esquecida e que todos se preocupam com o bem estar dela. Quem sabe isso possa ajudá-la a aceitar melhor tudo o que está acontecendo?
     Eu então juntaria todos os depoimentos e imprimiria com algumas fotografias para confeccionar uma espécie de caderno que ofereceríamos para ela. Eu então juntaria todos os depoimentos e imprimiria com algumas fotografias para confeccionar uma espécie de caderno que ofereceríamos para ela. Bem, essa é uma tentativa de facilitar a travessia dela nesse momento. Conto com a ajuda de todos, mais uma vez. Obrigado e um bom domingo,
                                                  
                                                                                         Guilherme.
 
p.s.: Eu mostrei a ela a foto que ilustra essa postagem e disse que ia mandar pra toda a família. Ela sorriu e disse: "Tá."
                        

domingo, 23 de setembro de 2012

Dores do corpo, dores da alma

    

     Bem, em primeiro lugar peço que me perdoem por não ter postado nada no domingo passado, mas estive em São Paulo no fim de semana e o cansaço acabou me vencendo. Depois, de segunda em diante fica difícil arranjar um tempinho para escrever. Mas, como diz o ditado: "No news, good news".
     As coisas por aqui vão entrando num período de normalidade, talvez por isso também não haja tanta coisa a contar como nos primeiros momentos. O estado de saúde da Dorita tem se mantido estável, ela tem dormido bem, a noite toda e se alimentado bem, tanbém. Ainda alterna momentos em que parece mais "viva" e comunicativa, com outros em que parece ausente e coopera menos com os cuidados dela. Mas, creio que isso faz parte (ainda) de um longo e difícil processo de adaptação. Não creio que ela vá conseguir dizer algo do tipo: "Eu nâo queria estar aqui", no máximo ela consegu dizer que Ourinhos é um um inferno. Mas acho que ela de alguma maneira, ao se ausentar do contato, está protestando e demonstrando sua insatisfação com tudo que ela está tendo que viver. Quem de nós gostaria de viver o que ela está vivendo, assim, à revelia? 
     Restam alguns problemas dela pra resolver. A consulta com a fonoaudióloga não resultou em nada por que ela é representatnte de uma determinada marca de aparelhos auditivos, diferente do da Dorita. Teria que ser feito um novo. Prefiro tentar ainda consertar o antigo, que estava funcionando, apesar do ruído. Conseguir um aparelho novo via SUS, aqui em Ourinhos, não parece possível . Enquanto isso não se resolve o contato com ela fica mais difícil, mas vamos nos virando com mímica e leitura labial. 
     Continuo em busca de uma possibilidade de cirurgia para a Dorita. O médico ortopedista e o anestesista já abriram mão dos seus honorários. Resta ver se eu consigo alguma coisa no hospital. O objetivo é tirar o pino que está fora do lugar e possívelmente provocando a dor de que ela se queixa. A colocação da prótese ainda não poderia ser coberta pelo plano de saúde que fizemos pra ela. Ficaria para um outro momento.  Mas, se ela puder ficar sem essa dor que a incomoda tanto, já seria uma vitória. Outras dores são mais demoradas pra cicatrizar. 
     Um grande abraço e uma boa semana a todos.
     
    

domingo, 9 de setembro de 2012

Obras


     A vista que vocês vêem acima é da janela do banheiro da Dorita. Abaixo vocês podem ver o quarto dela, a porta do banheiro à direita e a porta-balcão que vai dar numa pequena varanda com a mesma vista do banheiro. Só pra vocês poderem ter uma ideia do andamento das obras. Ainda deve demorar cerca de um mês pra que fique tudo pronto, mas a ideia é aprontar o quarto dela primeiro, para que ela possa se mudar e nós possamos ter o nosso quarto de volta. Isso deve ocorrer em cerca de 15 dias.
     Enquanto isso, continua o processo de adaptação dela à nova realidade. Não tem sido fácil, mas parece que aos poucos as coisas vão se ajeitando. Ela tem dormido bem todas as noites, se alimenta bem e durante o dia tem alternado dias em que está mais alegre e comunicativa, com outros em que parece mais alheia, indiferente às nossas tentativas de comunicação. 
     Um dos problemas agora é o aparelho de audição, que parou de funcionar. Estou tentando alguém que possa consertar, mas só consegui até agora uma fonoaudióloga para o dia 19. Isso dificulta bastante o nosso contato com ela, por que sem o aparelho ela não escuta nada. Mas, vamos conversando por sinais e ouvindo sempre que ela quer falar. Minha mãe me disse que há possibilidade de conseguir o aparelho gratuitamente através do SUS. Vou checar.
     Ontem e hoje ela teve dias melhores, mais acordada. Tentando oferecer a ela algo mais do que a TV e o ambiente dentro de casa eu a levei ontem para ler revistas na calçada em frente de casa. Estávamos ali, sentados, lendo, quando de repente, ela olhou pra mim e perguntou: "Aqui é Ourinhos?". Fiquei surpreso por que até então ela só fazia referências ao Rio: pergunta sobre a Celeste, a cachorrinha, minha mãe, às vezes faz algum comentário sobre "a titia" ou a "madrinha", como se elas estivessem vivas. No dia em que a levei pra dar uma volta de carro pela cidade e perguntei se ela tinha gostado, ela não respondeu. Então a atitude predominante até agora parece ser de uma recusa da realidade. 
     Por isso quando ela perguntou se estávamos em Ourinhos eu fiquei muito feliz e respondi que sim. Aí, pra minha surpresa ela diz: "Pois devia se chamar Inferninho" e fez uma cara de criança contrariada. Não sei exatamente o que ela quis dizer com isso, aceito sugestões, mas fica pra mim a forte impressão de que ela vai podendo, lentamente e com muito sofrimento, aceitar uma nova condição. 
 
P.S.: Tenho passado pra ela todas as postagens que tem sido feitas no blog. Agradeço a todos os que tem escrito e peço que não deixem de fazê-lo.