Família,
escrevo a vocês para pedir ajuda, mais uma vez. Temos tido
algumas dificuldades que estamos tentando resolver por aqui mesmo. Terça feira
vem aqui em casa uma fonoaudióloga ver como está a audição dela e o aparelho,
que está quebrado. Isso dificulta muito nossa comunicação com ela e a deixa, de
uma certa forma, mais isolada. Estou tentando ver a possibilidade dela ser
operada para tirar o pino colocado na cirurgia que ela fez no Rio e que é o que
provavelmente está provocando a dor. Não haverá custos de anestesia nem do
cirurgião e ainda estou tentando alguma coisa com relação aos custos de
internação. A colocação de uma prótese ficaria para janeiro, passado o prazo que
ela tem de cumprir das carências do plano de saúde. Essa prótese é que
permitiria, se tudo der certo, que ela voltasse a andar.
Mas, ainda sinto que há dificuldades na adaptação dela. Muitas vezes sentimos que ela não nos ajuda a cuidar dela. Temos que insistir para que ela coma sozinha ou ajude no banho, por exemplo. Essa semana
ela ficou constipada por três ou quatro dias. Na verdade observamos que não era
bem uma constipação. Ela como que se recusava a fazer força para evacuar. Isso
criou problemas para a Sara que está cuidando dela e nos preocupou. Com a minha
experiência de atendimento psicológico pensei imediatamente nas crianças que se
recusam a evacuar. O sentimento que está associado a esse gesto é geralmente a
raiva.
Como não imaginar que a Dorita possa estar brava com tudo que está
acontecendo com ela? Por maior que seja a nossa dedicação e o cuidado que
estamos tentando oferecer a ela fico sempre com a sensação de que falta alguma
coisa. Conversei com a Ana e com os meninos tentando pensar se há algo mais que
possamos fazer por ela. Vamos tentar melhorar ao máximo o cuidado que estamos
oferecendo.
Mas, ocorreu-nos uma ideia. Contei a vocês da possibilidade que ela
está tendo de expressar a raiva dela, como na história do "inferninho" (postada
no blog em 09/09). No entanto, talvez persista nela uma sensação de abandono.
Há, de fato, na presença dela aqui, alguma coisa que ela pode sentir como uma
espécie de exílio. Creio que não é difícil entender que ela possa se sentir
abandonada, apesar de todo o cuidado com que foi feita a a mudança dela para cá.
Foi então que nos veio a ideia. Eu já vinha imprimindo as mensagens de
vocês para mostrar a ela. Ela lê, mas não faz nenhum comentário. Hoje a Celeste
telefonou, eu disse isso a ela, mas ela ficou me olhando sem dizer nada.
Pensamos então que seria interessante se todos
pudessem escrever alguma coisa no blog, ou mandar por email. Algo como o que já
tem sido escrito, mas dirigido especificamente a ela, expressando o sentimento
de cada um em relação a ela e ao que está acontecendo. Creio que isso poderia dar a ela,
mais claramente, uma confiança maior de que ela não está sendo esquecida e que
todos se preocupam com o bem estar dela. Quem sabe isso possa ajudá-la a aceitar
melhor tudo o que está acontecendo?
Eu então juntaria todos os depoimentos e imprimiria com algumas
fotografias para confeccionar uma espécie de caderno que ofereceríamos para ela. Eu então juntaria todos os depoimentos e imprimiria com algumas fotografias
para confeccionar uma espécie de caderno que ofereceríamos para ela. Bem, essa é
uma tentativa de facilitar a travessia dela nesse momento. Conto com a ajuda de
todos, mais uma vez. Obrigado e um bom domingo,
Guilherme.
p.s.: Eu mostrei a ela a foto que ilustra essa postagem e disse que ia
mandar pra toda a família. Ela sorriu e disse: "Tá."