Refazendo Contato

     A foto é antiga, foi tirada na noite do réveillon, mas serve como ilustração dessa postagem. O título dela se refere à intenção de fazer deste blog um meio de comunicação da Família Alencar. Como já fazem dois meses que não coloco notícias, escolhi esse título para falar da minha intenção de continuar usando esse espaço como meio de integração. 

     Por outro lado me dei conta que o título também pode servir para falar um pouco de como andam as coisas por aqui. Refazer o contato com a Dorita nesse momento também significa aceitar o processo pelo qual ela está passando e o nosso papel de ajudá-la a atravessar esse momento da vida. Quero dizer com isso que fui passando por um processo doloroso de aceitação de uma Dorita que não é mais a mesma que eu conhecia e que amava. Ao mesmo tempo que continua sendo. 

     É difícil explicar, mas ela é e não é a Dorita. Por isso fazer contato com ela hoje significa ter que abrir mão da expectativa de encontrar nela aquela Dorita que todos nós conhecemos. Saber que ela hoje precisa passar por períodos (que ás vezes duram vários dias) de total isolamento. São dias em que ela come pouco, não fala nada, passa o tempo todo dormindo ou com os olhos fechados. Nesses dias ela precisa de ajuda até para comer. Por outro lado há dias (cada vez mais raros) em que ela parece alegre, sorridente, comunicativa e mais independente, precisando de ajuda apenas para aquilo de que ela é fisicamente incapaz de fazer. 

     Esse ciclo tem se repetido sem muitas alterações nesse últimos dois meses. No início eu procurava atribuir essas alterações às dificuldades naturais de uma mudança radical para uma pessoa na idade dela. Ainda acho que isso também faz parte das dificuldades que ela tem enfrentado desde que veio para Ourinhos. Ela até hoje diz, por exemplo, que está no Rio de Janeiro. Mas, agora percebo que há algo que vai para além disso. O geriatra diz que o diagnóstico mais provável dela é o de Alzheimer. Assim, o contato com ela tende a ficar cada vez mais difícil.

     Por isso a ideia de que temos que refazer o contato com ela, de uma outra maneira. Continuamos com a disposição de oferecer a ela não apenas conforto, mas todo o carinho que acho que é devido a alguém que passou a vida toda fazendo doações para os outros. Além disso a história da Dorita me faz pensar na importância de sabermos que somos parte de um grupo, uma família, uma comunidade que procura ajudar aqueles que são mais frágeis na difícil tarefa de viver. 

     Termino essa postagem tomando a liberdade de pedir a todos um pouco mais de ajuda financeira. Quem viu a última postagem (de março) conheceu a Chihiro, nossa nova cachorrinha. Acontece que ela é encantadora mas, certo dia, o aparelho de audição da Dorita caiu no chão e foi devorado por ela. Já compramos um novo aparelho uma vez que sem isso a comunicação com ela fica muito mais difícil e ela se isola ainda mais. O custo foi de R$2.800 parcelado em dez vezes. Já comecei a pagar esse mês e me disponho a assumir mais essa despesa junto com as outras que o acolhimento à Dorita exige. Mas, se for possível que aqueles que já estão contribuindo acrescentarem ao que já está sendo ofertado mais R$20 por mês até fevereiro isso me ajudaria. 

     No mais é apenas desejar que todos tenham tido um bom dia das mães e lembrar que a Dorita também foi um pouco mãe de todos nós. 

     Um grande abraço.